


DS Audio DS 003 e Technics SL-1000R.
Brevemente, a minha próxima agulha, no meu próximo gira-discos.
Chegou esta peça numa espécie de caixinha de joalharia, destinada ao gira-discos Technics SL-1000R (que apesar do preço, não inclui shell), mas já que aqui está, instalei-a no Technics SL-1200GR e que diferença assombrosa.
Esta shell DS Audio HS-001 é maquinada a partir de um bloco de duralumin e tem um acabamento verdadeiramente de luxo. Como sempre acontece nestas coisas, antes, a shell original do gira-discos parecia boa e adequada à função, depois… é uma coisita de plástico surpreendentemente fraca.
A música num gira-discos começa obviamente no disco e através da agulha segue um percurso sinuoso pelo braço até ao pré-amplificador phono, daí para o pré-amplificador, para o amplificador, para as colunas e finalmente para os nossos ouvidos. Passamos de uma corrente fraquíssima modulada em forma de música que nasce na célula para algo que se consiga ouvir através deste sistema que chocalha constantemente — é um conjunto dinâmico e caótico de jiggling things, como dizia Richard Feynman. Controlar esse constante chocalhar é mais fácil de dizer do que fazer, mas é em última análise um dos grandes objectivos de um bom gira-discos.
E assim, acho que se percebem duas coisas que notei imediatamente: A primeira uma precisão sonora que corresponde metaforicamente à precisão da HS-001, incrível. A segunda foi mais difícil, primeiro comecei a achar os discos mais silenciosos ao que se juntava um destaque mais acentuado de todos os micro-sons e efeitos. E essa sensação crescia com cada nova música… e lembrei-me das descrições que já li inúmeras vezes: O palco ficou completamente negro. O som passou a surgir de um fundo negro e sem perturbações, tudo parece mais nítido e profundo.
Portanto, aconteceu mais uma vez. A DS Audio HS-001 e os cabos XLR Esprit Eterna, transformaram algo que eu já considerava bom em algo bem melhor. Ainda há poucos dias eu não sentia falta destes melhoramentos, mas depois de ouvir, é impossível voltar atrás.
A tocar Cass McCombs, Mangy Love, 2016.
Por facilidade de linguagem, vou dizer 10 anos. Há 10 anos, notei que o meu gosto musical estava não só a mudar, como a alargar. Músicas que ouvia desde os meus 16 anos, começaram a soar pior, tendo algumas caído na mais completa desgraça e rápido esquecimento. Cumpriram a sua função durante muitos anos e é tudo. Mesmo discos com conotação audiófila, como “Loveless” dos My Bloody Valentine (a minha banda preferida desses tempos) já não são a mesma coisa. Grupos como Cocteau Twins já não suporto e escolhi esta banda consensual só para frisar este ponto, porque há muitas mais. Não digo que são más, não são. O que digo, é que por mim deixaram de fazer o que quer que seja há muito tempo.
Entretanto, quando mudei para a casa actual há mais de dois anos, iniciei uma jornada — ou melhor, iniciei a parte final de uma jornada que começou há mesmo muito tempo e que sempre me fez desejar ter uma aparelhagem de alta fidelidade digna desse nome. Tenho agora uma sala dedicada aos livros e ao som, uma combinação que resulta magnificamente porque os livros são difusores naturais. E tenho três paredes cheias deles. E tenho som.
O que noto é uma translação do gosto musical para outras paragens, nomeadamente, discos bem gravados. Tornou-se penoso ouvir discos mal gravados (com a gama dinâmica destruída para “tocarem muito alto” no rádio do carro), ou no caso do vinil, também discos mal editados, com prensagens muito más. A transparência sonora que permite sair deste mundo quando se ouve um disco, é transversal e o que é mau também faz a sua aparição inevitável. Estas aparelhagens high-end ou super high-end não arredondam o som, nem o amaciam, se a música que se ouve é áspera, aspereza é o que teremos. E não gosto. Discos da Analogue Productions, Craft Records, Sam Records, Impex ou Mobility Fidelity Sound Lab, tornaram-se a base de comparação porque em bom rigor um disco novo editado hoje, não tem razão para não sair com esses índices de perfeição. Essas etiquetas audiófilas trabalham essencialmente com reedições, recorrendo às master tapes originais e o preço acaba por se entender, tendo em conta os resultados. Mas, esgotam permanentemente e os discos atingem valores incomportáveis. Comprei a edição de 2015 do “Kind of Blue” de Miles Davis da Mofi (o qual já tenho em CD, vinil mono e vinil stereo) e na pesquisa reparei que há casas a pedir 400£ por uma cópia (se não me engano custou-me 75,00€, o que apesar de tudo, é bastante por um álbum).
E assim, a minha colecção de CDs está praticamente estagnada, a minha colecção de vinil tem crescido imenso e têm chegado tantos que é difícil dar conta de todos. O satisfatório é que tenho comprado álbuns que são agora os melhores que tenho de qualquer género, como o Legrand Jazz (Michel Legrand) da Impex em 2 x 45rpm ou Chet Baker in New York da Craft Recordings. São discos maravilhosos, inacreditavelmente bons. Neste momento terei 22 discos por ouvir, em grande parte porque comprei mais seis da Sam Records e também chegaram os quatro discos da The New Orleans Collection da Newvelle. E estes discos, em edições notavelmente melhores que as originais, permitem-me descobrir ou redescobrir música que me passou completamente ao lado nos tempos idos.
E para ouvir isto tudo, espero até ao fim deste ano dar um grande passo em direcção ao fim da jornada com o gira-discos Technics SL-1000R e a agulha DS W2 da DS Audio (Também a Shell HS-001). Por acaso neste vídeo (YouTube) tem exactamente esta combinação Technics/DS Audio a tocar.
E depois disto, só é preciso ir comprando uns discos, ter tempo para os ouvir e desfrutar.