Hoje em dia já ninguém lá vai, aquilo está cheio de gente

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Fora

Publicado em 14/11/2023

Gosto de cantar. Não sei cantar, e sou desafinadíssima, mas canto, algumas vezes, muito baixinho, quando estou sozinha. Que sou muito desafinada, sei-o porque os outros mo disseram; a minha voz deve ser como o miar de um gato. Mas eu, por mim, não me dou conta de nada; e experimento, ao cantar, um vivo prazer. Ele, ele ouve-me, imita-me; diz que o meu cantar é uma coisa que está fora da música; uma coisa inventada por mim.

—Natalia Ginzburg, As Pequenas Virtudes, Ele e Eu, Relógio D’Água 2021 (1972)

Fogo

Publicado em 04/11/2023

Dedico este livro a um amigo meu, cujo nome calo. Não está presente em nenhum destes escritos, e todavia, em grande parte deles, foi ele o meu interlocutor secreto. Não teria escrito muitos destes ensaios, se não tivesse por vezes falado com ele. Ele deu legitimidade e liberdade de expressão a certas coisas que eu pensara.
Exprimo-lhe aqui o meu afecto, e o testemunho da minha grande amizade, que passou, como toda a verdadeira amizade, através do fogo dos mais violentos desacordos.

—Natalia Ginzburg, As Pequenas Virtudes (prólogo), Relógio D’Água 2021 (1972)