Hoje em dia já ninguém lá vai, aquilo está cheio de gente

Artigos etiquetados “natalia ginzburg

Pareciam

Publicado em 28/01/2025

Agora recolhia na memória cada uma das palavras que ele me dissera e procurava ver se havia amor nelas, agarrava naquelas palavras todas e dava-lhes voltas e voltas dentro de mim, e a certa altura pareciam ter um significado e logo a seguir significavam outra coisa e por fim largava-as e toldavam-se-me os olhos.

—Natalia Ginzburg, Foi Assim, Relógio D’Água 2023 (1947)

Uma Espécie

Publicado em 24/01/2025

— Talvez também viesses a gostar de mim aos poucos — disse-me. — Mas não vale a pena falar disso agora. Falar faz doer ainda mais. Acabou. Vês, estou aqui perto de ti, mas não encontro mais nada para te dizer. Gostava de fazer alguma coisa por ti, para te ajudar, mas ao mesmo tempo tenho uma espécie de vontade de me ir embora e de não ouvir mais falar de ti.

—Natalia Ginzburg, O Caminho da Cidade, Relógio D’Água 2024 (1942)

Não Tinha

Publicado em 10/05/2024

Assim, um dia, começaram a fazer amor, estavam agarrados um ao outro sobre a erva e o mundo em volta era verde e sussurrante, entre os tépidos sopros da erva e o alto céu de nuvens, e o resto de Giuma estava absorto, raivoso e secreto, com as pálpebras fechadas sobre os olhos e com uma respiração breve. Em casa ela sentou-se atordoada à mesa do seu quarto, reviu com uma picada de dor no coração o rosto de Giuma, aquele rosto como se imerso num sono raivoso e secreto, aquele rosto que não tinha mais palavras ou pensamentos para ela.

—Natalia Ginzburg, Todos os Nossos Ontens, Relógio D’Água 2023 (1952)