‘Round Midnight (1986) (24)
Consta que é um dos melhores filmes sobre o mundo do jazz e confirma a velha máxima que diz que é mais fácil ensinar um músico a ser actor do que um actor a tocar. Dexter Gordon faz um papel incrível junto de um estranhamente novo François Cluzet. Ganhou o Oscar para a melhor banda sonora, composta por Herbie Hancock que também participa como actor. O título refere-se a um dos standards do jazz, composto por Thelonius Monk. Realizado por Bertrand Tavernier.
☆ ☆ ☆ ☆
The Man Who Knew Too Much (1934) (25)
Realizado por Alfred Hitchcock.
☆ ☆ ☆ ½
Nomadland (2020) (26)
Que filme extraordinariamente triste. Lembrei-me de Wendy and Lucy (2008) de Kelly Reichardt, talvez por isso e por apenas uma outra razão, mas crucial: Há pessoas que gastam toda a sua energia só para sobreviver e é tudo. Há também uma diferença importante, aqui existe trabalho (sasonal, meramente de sobrevivência, designadamente num armazém da Amazon durante a época natalícia) e aquilo que parece ser uma escolha de um modo de vida, apesar de precipitado por acontecimentos incontroláveis. Em Wendy and Lucy, a sensação é que não existe qualquer escolha, nem irá existir.
Eu vou classificar este filme na secção neorealismo americano, que não sei se é imaginária. Há a Frances McDormand, uma magnífica escolha para o principal papel que é espantoso, também David Strathairn que francamente só me lembro de The Expanse como o incrível Klaes Ashford, que aqui estranhamente cultiva praticamente o mesmo visual. Os restantes, parecem ser nómadas reais a interpretarem-se a si próprios. É um daqueles raros filmes em que cada plano, cada diálogo, tem o peso de 1.000 tristezas. A música não dá tréguas e agrega a angústia do início ao fim, com Ludovico Einaudi, Ólafur Arnalds e outros. Realizado por Chloé Zhao.
☆ ☆ ☆ ☆ ☆
Newness (2017) (27)
O espantoso mundo das aplicações de encontros sexuais, os swipes e os matchs! Os nossos protagonistas encontram-se uma noite, já depois de cada um ter tido o seu parceiro sexual, ele com uma magnífica sessão de vomitório, ela com uma sessão de sexo que conseguiu ser ainda ainda dois furos abaixo disso. São honestos e contam as aventuras um ao outro, melhor cartão de visita para primeiro encontro não podia haver — a honestidade. É anedótico. Ele convida-a para alguma diversão com “no strings attached”, por isso começaram a viver juntos praticamente nessa noite, ou dia, que já tinha amanhecido. Gostei de pormenores como a técnica de copy/paste de mensagens para várias ao mesmo tempo, ou ela vendo que duas bebidas já estão no balcão quando chega, bebe antes a dele — além da honestidade, estas relações começam sempre com uma grande dose de copos e de confiança no outro. Passou pouco até ela concluir que afinal não sabe nada sobre o namorado. Foi um choque. E não passou muito mais para voltarem à app e daí para o psicólogo porque o amor que os unia era grande. Etc. Etc. São tão sinceros um com o outro que quase, quase, quase, tinha pena deles, mas não tive — lembrei-me foi do mestre Philip Roth: “A sinceridade é tudo. Sincera e vazia, totalmente vazia. A sinceridade que dispara em todas as direcções. A sinceridade é pior que a falsidade e a inocência que é pior que a corrupção.” Anedótico não chega a descrever este mundo. Para o fim melhora, ela que deseja sempre coisas novas começa a relacionar-se com um indivíduo cheio de dinheiro que podia ser pai dela, porque não há mais newness que isso. Mas valeu a pena ver, só para assistir ao discurso de antologia com que o “pai” a brinda e lhe mostra a realidade — ao que ela responde de forma algo menos antológica, que ele não a conhece (mais um choque) e ela não é a pessoa que ele pensa que ela é (é um nunca acabar de choques).
Este filme passa de conversa para conversa, tentando reproduzir o dia a dia destas pessoas, mas ao contrário do filme anterior, cada diálogo e cada plano são um chorrilho de banalidades, lugares comuns e superficialidade insuportável. Fico com dúvidas se o objectivo não terá sido atingido, porque esta realidade é assim mesmo, completamente vazia. Portanto pode ser um bom filme, mas de Drake Doremus foi o que gostei menos até agora. Uma das músicas que acompanha este degredo é Short Line dos Howling, não há más coincidências. Por acaso tenho esse disco, os Howling são Frank Wiedemann e RY X. Realizado por Drake Doremus.
☆ ☆ ☆ ½
Endings, Beginnings (2019) (28)
Felizmente, este filme é muito melhor que a pobre pontuação no site IMDB deixa adivinhar. No entanto, a primeira coisa que pensei foi que os cigarros fizeram um regresso triunfal ao cinema, se é que alguma vez saíram. Já não me lembro de ver um filme onde os protagonistas não fumem incessantemente. E a segunda é que não me consegui abstrair totalmente de ter visto a actriz Shailene Woodley na série Big Little Lies; pior, o actor Jamie Dornan, praticamente com o mesmo aspecto de um dos maiores psicopatas de sempre da TV, que interpretou em The Fall — quase que esperava que a qualquer altura a matasse com requintes de malvadez. Mas lá passou. Também notei que não tenho banda sonora para sofrer, ou melhor, tenho, com aquelas músicas a que já não ligo patavina. Agora não ouço música para sofrer, já basta o resto, mas devia pensar nisso. Apesar deste início conturbado, os filmes do Drake Doremus pelo menos dão-me vontade de os comentar.
É mais um segmento da vida de uma mulher moderna, promíscua, mentirosa, cheia de esquemas… Acabou com o namorado que era um tipo impecável, um notório defeito. Nada melhor do que envolver-se com dois amigos, um dos quais um evidente bandalho, mas óptima companhia e ao que consta, muito bem dotado. A partir daí é o costume, mentiras, enganos, vai estando na cama de um e de outro, sem assumir realmente ser namorada de algum. Há uma atenuante que acaba por se perceber melhor no fim, mas as atenuantes andam sempre a par destes comportamentos. Parece que a mãe andou a fazer mais ou menos o mesmo, mas revela que “foi pelas filhas” (fiquei chocado, uma atenuante), porque estas pessoas têm sempre uma moral à medida e obviamente superior. Numa cena óptima pela ambiguidade, pergunta à filha se acredita nisso (que foi por elas) e não se vê a resposta que se imagina um assertivo “não”, embora possa ter sido um piedoso “sim”. Para estas pessoas, os endings são óptimos porque dão sempre origem a beginnings com aquela adrenalina, a excitação, a novidade e zero aprendizagem. Claro que também podem dar uma filha, da qual não se sabe bem quem é o pai. No filme, a partir daí, a esperança passa a transbordar do ecrã, vai ser tudo óptimo, a solução para aquele vazio que se agigantava e todos aqueles problemas. Na realidade, é mais como uma prima uma vez me disse exactamente sobre estes comportamentos e sobre a educação que se dá a um filho tendo esse pano de fundo e essa tal moral superior à medida de cada circunstância. Diz ela, que o mais certo é as coisas se perpetuarem.
Mas gostei do filme, bem filmado, boa música, pareceu-me muito realista também (muito mais que Newness). A cena que gostei mais foi quando ela encontra no meio de uma tralha uma mensagem escrita pelo antigo namorado junto com um bilhete dos The Mary Onettes… É uma coisa que eu faria e quase lamentei nunca ter tido essa oportunidade.
Por fim, não gostei mesmo nada da sequência das mensagens de texto que aparecem na imagem, com umas cores e um tipo de letra completamente WTF, nem se entende. Mas adorei quando os diálogos começavam a ficar desfasados das imagens, não me lembro de ter visto nada igual. Está mesmo muito bem feito e parece que nos faz entrar na cabeça dos personagens com uma intimidade e uma força que acho que nunca tinha sentido em nenhum filme. Realizado por Drake Doremus.
☆ ☆ ☆ ☆
Undine (2020) (29)
Não há uma boa sequência de filmes que não seja interrompida por um filme mesmo fraco. Realizado por Christian Petzold.
☆
Equals (2015) (30)
Uma distopia em volta dos temas habituais do realizador, uma sociedade sem emoções e o amor entre duas pessoas. Realizado por Drake Doremus.
☆ ☆ ☆ ½