Os artistas têm interesse em que se acredite nas súbitas revelações, as chamadas inspirações, como se a ideia de uma obra de arte, de um poema, o pensamento fundamental de uma filosofia brilhasse como uma luz de graça descida dos céus. Na verdade, a imaginação do bom artista ou pensador está continuamente a produzir, seja o bom, o medíocre ou o mau, mas a sua faculdade de julgamento, altamente apurada e treinada, rejeita, escolhe, combina; como se pode ver agora pelos cadernos de Beethoven, que ele reuniu gradualmente as melodias mais gloriosas, tendo, de certa forma, seleccionado a partir de múltiplos começos. Quem separa com menos rigor e se entrega de bom grado à memória imitativa pode, em certas circunstâncias, tornar-se um grande improvisador; mas a improvisação artística ocupa uma posição muito inferior em relação ao pensamento artístico seriamente e laboriosamente escolhido. Todos os grandes homens foram grandes trabalhadores, incansáveis não só na invenção, mas também no acto de rejeitar, seleccionar, reformar e organizar.
—Friedrich Nietzsche, Humano, Demasiado Humano, 1878 (Machine translation a partir do texto original alemão, que concluí ser superior a outras traduções inglesas e portuguesas.)