Hoje em dia já ninguém lá vai, aquilo está cheio de gente

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Crença na Inspiração

Publicado em 18/10/2024

Os artistas têm interesse em que se acredite nas súbitas revelações, as chamadas inspirações, como se a ideia de uma obra de arte, de um poema, o pensamento fundamental de uma filosofia brilhasse como uma luz de graça descida dos céus. Na verdade, a imaginação do bom artista ou pensador está continuamente a produzir, seja o bom, o medíocre ou o mau, mas a sua faculdade de julgamento, altamente apurada e treinada, rejeita, escolhe, combina; como se pode ver agora pelos cadernos de Beethoven, que ele reuniu gradualmente as melodias mais gloriosas, tendo, de certa forma, seleccionado a partir de múltiplos começos. Quem separa com menos rigor e se entrega de bom grado à memória imitativa pode, em certas circunstâncias, tornar-se um grande improvisador; mas a improvisação artística ocupa uma posição muito inferior em relação ao pensamento artístico seriamente e laboriosamente escolhido. Todos os grandes homens foram grandes trabalhadores, incansáveis não só na invenção, mas também no acto de rejeitar, seleccionar, reformar e organizar.

—Friedrich Nietzsche, Humano, Demasiado Humano, 1878 (Machine translation a partir do texto original alemão, que concluí ser superior a outras traduções inglesas e portuguesas.)

Enjeitado

Publicado em 29/03/2023

A nossa Europa de hoje, sendo a arena de uma tentativa absolutamente súbita de uma mistura radical de classes e, logo, de raças, é, por conseguinte, céptica em todos os planos — por vezes esse cepticismo móvel que salta impaciente e lascivamente de ramo para ramo, por vezes sombrio como uma nuvem sobrecarregada de pontos de interrogação — e, frequentemente, mortalmente doente de vontade. A paralisia da vontade: onde é que, hoje em dia, não se encontra este enjeitado? E, não raro, com que atavios! Quão sedutores parecem esses atavios! Esta doença desfruta das roupagens mais belas e espampanantes; e a maior parte do que hoje em dia se apresenta, por exemplo, como “objectividade”, “ser científico”, “l’art pour l’art“, “conhecimento puro, livre de vontade”, não passa de cepticismo disfarçado e paralisia da vontade: é este diagnóstico da doença europeia que eu confirmo.

—Jordan Peterson citando Nietzsche, Mapas do Sentido, Lua de Papel 2019 (1999)