Hoje em dia já ninguém lá vai, aquilo está cheio de gente

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Noutro

Publicado em 01/11/2020

Mal acabei de ler “A Vida Mentirosa dos Adultos” de Elena Ferrante, comecei a ler “Herzog” de Saul Below, o que já devia a mim próprio há uns anos. No fim da segunda página já estava esmagado pela diferença de escrita dos dois. E, lamento imenso, Saul Below está verdadeiramente noutro patamar.
E, se recuar para o livro anterior, o normal “Pessoas Normais” de Sally Rooney, posso simplesmente dizer que Rooney está para Ferrante, como Ferrante está para Below. Se estas comparações não fazem qualquer sentido, não faz mal, não percebo nada de literatura, mas sei do que gosto.

A Vida Mentirosa dos Adultos de Elena Ferrante

Publicado em 30/10/2020

É como habitualmente uma leitura agradável, que rapidamente atinge um ritmo frenético, infelizmente a autora começa a perder-se já perto do final. Claro que hoje em dia, tudo em que Ferrante toca, transforma-se em ouro.

Os adultos são pessoas muito pouco recomendáveis, mas francamente, os seus filhos não são melhores. Tudo se perpetua e repete até ao infinito.

Para quem leu o quarteto de romances napolitanos, reconhece-os aqui sem dificuldade. A parte alta e baixa da sociedade italiana (napolitana), a gente chã e os intelectuais da esquerda manhosa sempre aspirando a muito mais, as mulheres bonitas e as feias, os homens altos de ombros largos — incluindo sempre o particularmente carismático, aquelas personalidades paradoxais — Giovanna faz lembrar Lila por vezes, Lenú por outras —, aquelas famílias, os lugares… a verdade é que não acrescenta muito, é derivativo e no fim, fica longe do melhor de Elena Ferrante.

Não posso dizer que não gostei, mas também não posso dizer que gostei. Foi melhor a viagem, estar em movimento, do que chegar ao destino A beleza de Giovanna, que aos 12 anos apanhou o pai a dizer à mãe que ela se estava a tornar feia como a tia Vittoria, está nos olhos de quem a vê.

Não Era

Publicado em 20/04/2020

“(…) Porquê?”
“Porque erraste”
Não gostei da frase, soou como o eco de uma velha ofensa. Estava a atirar-me à cara que eu errara, apesar de ela ter tentado afastar-me do erro. Estava a dizer-me que eu quisera errar, e consequentemente ela enganara-se, eu não era inteligente, era uma mulher estúpida.

—Elena Ferrante, História da Menina Perdida

Semeia

Publicado em 12/04/2020

Disse que ela não era de facto minha amiga, que me detestava, que sim, era extraordinariamente inteligente, que também era muito fascinante, mas que a sua inteligência era mal usada — a inteligência maldosa que semeia discórdia e odeia a vida —, e o seu fascínio era do mais insuportável, o tipo de fascínio que escraviza e leva à ruína. Assim mesmo.

—Elena Ferrante, História de Quem Vai e de Quem Fica