Gosto de cantar. Não sei cantar, e sou desafinadíssima, mas canto, algumas vezes, muito baixinho, quando estou sozinha. Que sou muito desafinada, sei-o porque os outros mo disseram; a minha voz deve ser como o miar de um gato. Mas eu, por mim, não me dou conta de nada; e experimento, ao cantar, um vivo prazer. Ele, ele ouve-me, imita-me; diz que o meu cantar é uma coisa que está fora da música; uma coisa inventada por mim.

—Natalia Ginzburg, As Pequenas Virtudes, Ele e Eu, Relógio D’Água 2021 (1972)