Hoje em dia já ninguém lá vai, aquilo está cheio de gente

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O Mais Provável

Publicado em 07/12/2023

Um dia encontramos a pessoa certa. Ficamos indiferentes, porque não a reconhecemos: passeamos com a pessoa certa pelas ruas dos subúrbios, ganhamos pouco a pouco o hábito de passear juntos todos os dias. De vez em quando, distraídos, perguntamo-nos se não estaremos talvez a passear com a pessoa certa: mas o mais provável é que não. Estamos demasiados tranquilos; a terra e o céu não mudaram; os minutos e as horas passam com sossego, sem rebates profundos no nosso coração. Já nos enganámos muitas vezes: julgámo-nos na presença da pessoa certa, e não era ela.

—Natalia Ginzburg, As Pequenas Virtudes, As Relações Humanas, Relógio D’Água 2021 (1972)

Talvez

Publicado em 05/12/2023

As pessoas do outro sexo andam ao nosso lado, roçam em nós ao passar na rua, têm talvez pensamentos ou intenções a nosso respeito que nunca poderemos conhecer; Têm na mão o nosso destino, a nossa felicidade. Entre elas existe talvez a pessoa que seria boa para nós, que poderia amar-nos e que nós poderíamos amar: a pessoa certa para nós; mas onde está ela?

—Natalia Ginzburg, As Pequenas Virtudes, As Relações Humanas, Relógio D’Água 2021 (1972)

Jamais

Publicado em 20/10/2023

Ainda assim, reflectia naquelas ocasiões secretas em que tinha de admitir para si próprio que havia algo de errado com a sua paixão, o amor sem posse jamais poderia, decerto, na natureza das coisas, ser o artigo genuíno. No seu diário registou adequadamente aquelas duas quadras de John Donne:

Assim as almas dos amantes devem
Descer às afeições e às faculdades
Que os sentidos atingem e percebem,
Senão um Príncipe jaz aprisionado


Aos corpos, finalmente, retornemos,
Descortinando o amor a toda a gente;
Os mistérios do amor, a alma os sente,
Porém o corpo é as páginas que lemos.


—Aldous Huxley, Contos Reunidos, Hubbert e Minnie, Antígona 2014 (1957)