Hoje em dia já ninguém lá vai, aquilo está cheio de gente

Artigos da categoria “Outras Coisas

Hatsuyume

Publicado em 04/01/2022

Na cultura japonesa, Hatsuyume é o primeiro sonho do ano. Tradicionalmente, o que se passa nesse sonho determina a sorte do sonhador para o ano inteiro. É considerada especialmente boa sorte sonhar com o Monte Fuji, beringelas ou com um falcão.
Como nunca me lembro dos sonhos, o ano é sempre uma surpresa e no fim acabo por não me queixar muito (embora me queixe frequentemente durante). De qualquer forma, consigo praticamente assegurar que nunca na minha vida sonhei com o Monte Fuji, ou um falcão e principalmente com beringelas.

Cozinha

Publicado em 03/01/2022

Escolher a cozinha foi para mim uma decisão importante, porque não só desde sempre observei que já em casa dos meus pais passávamos uma quantidade de tempo desproporcional na cozinha, mas também porque todos os estudos confirmam essa vivência. A oferta é enorme e claro, que além das cozinhas “de carpinteiro”, há dezenas de marcas que por sua vez têm dezenas de opções para dezenas de pormenores, tudo somado, as combinações são na prática infinitas.
Escolhi uma cozinha que tinha apenas uma opção de balcão, uma opção de design dos diversos componentes e duas cores, branco ou cinzento — escolhi esta última. Sem inúmeras possibilidades a atrapalhar, pude-me concentrar na configuração e detalhes. Desenhei tudo como queria apesar de não ter todos os dados técnicos e pouco depois o arquitecto do representante da marca reproduziu exactamente igual, menos um detalhe com o micro-ondas e forno. Fui a Lisboa para ver in loco e concluir a compra. Informaram-me na altura que a cozinha já só existia em branco. Mais me facilitou a vida. Decidi branco.
Ou achava eu, porque em casa a opção branco não foi exactamente bem recebida, embora depois tenha sido uma coisa que resultou, mas isso é outra história. Se a vida não fosse difícil, seria fácil. Tudo isto, a propósito do texto anterior, sobre ansiedade e preocupações.

2021 –> 2022

Publicado em 31/12/2021

Este ano vi uma quantidade razoável de filmes, mas mais uma vez preferia ver menos, retirando os maus. São menos de dois por semana, não é nenhum exagero, de qualquer forma se para o ano vir a mesma quantidade, ficarei contente. O que gostei mais foi “A Ilha de Bergmann”, por vários motivos — a companhia, as circunstâncias e o momento contam muito. E gosto da Mia Hansen-Løve.
Televisão a mesma coisa, mas acho que cada vez mais é mais fácil ficar satisfeito com uma boa série do que com um bom filme. Uma série aprofunda as personagens de uma forma que o cinema raramente ou nunca consegue e quando gostamos mesmo, em vez de duas horas temos dezenas e dezenas. Tem a outra face dessa moeda — as tais dezenas e dezenas de horas.
Li imenso, se conseguir manter o ritmo já me dou por feliz. Gostei muito de “The Last Picture Show” (também do filme) e tenho vários também de Larry McMurtry para ler. Mas gostei de muitos outros, acho que não li nenhum livro que não tivesse valido a pena a não ser ironicamente um de Philip Roth, um dos meus autores preferidos, o “Operação Shylock”.
Uma coisa que quero mesmo em 2022 é comprar menos discos (vinil). Se calhar comprei 300 (ou mais) este ano, não faz sentido porque não sou coleccionador e não passo os dias a ouvir música. Praticamente podia ter ouvido um disco novo por dia e o que acontece é que tenho muitos por ouvir e muitos outros que foram ouvidos uma vez ou pouco mais — não gosto de ouvir só os novos. Numa nota positiva, praticamente todos são grandes discos. É verdade que é na música que mais sinto a benção e a maldição da época em que vivemos, com acesso ao que de melhor se fez nos últimos muitos anos, com uma qualidade espantosa. Tem sido editada e re-editada uma quantidade inacreditável de música.

Fujiya & Miyagi

A tocar Fujiya & Miyagi, Artificial Sweeteners.

De resto, estou bem assim. Nunca estive “confinado” — só a palavra já me enerva —, mas não sinto qualquer falta de sair de casa para vida social ou cultural, sempre os mesmos e invariavelmente sem qualquer interesse. Se há coisa que este Sars-Cov-2 confirmou, foi isso — a completa falta de interesse de muito o que se tem por indispensável. Meia-dúzia de idas ao cinema chega-me bem para dois anos inteiros. Gosto de estar em casa, tenho planos e em que pensar, é em casa que me sinto bem.