Quando lhe lembro esse nosso passeio de outrora pela via Nazionale, diz que se lembra, mas eu sei que mente e não se lembra de nada; e pergunto-me às vezes se éramos nós, aquelas duas pessoas, na via Nazionale de há quase vinte anos; duas pessoas que conversaram tão amena, tão delicadamente, ao pôr-do-Sol; que falaram talvez um pouco de tudo e de nada; dois amáveis conversadores, dois jovens intelectuais que passeavam; tão jovens, tão educados, tão distraídos, tão dispostos a fazerem um do outro um juízo distraidamente favorável; tão dispostos a despedirem-se um do outro para sempre, naquele pôr-do-Sol, naquela esquina de rua.

—Natalia Ginzburg, As Pequenas Virtudes, Ele e Eu, Relógio D’Água 2021 (1972)