Scenes of a Marriage (2021)
Parece que é uma adaptação da série de Ingmar Bergmann através da lente de um casal americano contemporâneo e não há qualquer dúvida que contemporâneo é a palavra chave aqui, adaptação só nos sonhos de Hagai Levi certamente, ou então porque fica bem comercialmente e se calhar até convenceram um dos descendentes Bergmann a entrar como produtor e também a ganhar algum. E que história é aquela de mostrar os bastidores das filmagens no início? Deve ser para que ninguém fique convencido que alguma coisa é vagamente parecida com a realidade da esmagadora maioria das pessoas.
O primeiro episódio é deplorável e tudo assim o indicava, começando com uma entrevista em que uma investigadora que é obviamente uma mulher, tem uma mulher óbvia à frente e um homem, judeu, barbudo, que é nitidamente um homem e inicia a conversa com os “pronomes” que cada um adoptou para ser tratado — ela, ela, ele (parece anedota mas é bem real). Isto são cenas de um casamento, mas de outro planeta, infelizmente esta gente tenta por todos os meios exportar este lixo para onde podem. Mais tarde no mesmo dia, recebem um casal que está numa relação “aberta”, mas ela está muito deprimida porque se apaixonou pelo amante que a deixou… E não satisfeita no quarto beija sexualmente a anfitriã que, sabe-se depois, está grávida do marido e não esboça nem resistência, nem receptividade… Quem se comporta de uma forma e de outra? E a amiga é negra, obviamente, não vá a polícia da diversidade intervir. E tanta conversa para acabar tudo num previsível aborto.
No segundo episódio, Mira decide deixar o marido e a filha por um amante de 29 anos de Telavive (tudo muito judaico também, que essa polícia também não dorme e sem dinheiro não há palhaços), toda a conversa é de pasmar. A civilidade absoluta. De manhã, a mãe destroçada porque vai abandonar a família, diz que não “consegue” acordar a pequena filha e pouco depois numa cena surreal faz um cagaçal com a mala pelas escadas abaixo que me conseguiu acordar a mim e mesmo assim não acordou a filha — como esquecer a má cara que colocou quando no episódio anterior o amigo poli-amoroso fala um bocadinho mais alto e supostamente acorda a miúda?
No terceiro episódio, Mira já vive com o amante há um ano e continua casada — são as cenas deste casamento, pelos vistos. Visita o marido com o intuito de o manipular a mudar-se de armas e bagagens para Londres, porque lhe ofereceram uma promoção e um lugar do outro lado do Atlântico. E se nada resultasse, o sexo resultaria de certeza absoluta, mas não resultou. Ela teve a coragem de fazer esse papel e ele teve a coragem de a deixar, pois já sabia através de uma mensagem do amante, que já tudo tinha acabado. Deplorável, nem começa a descrever este episódio.
E eis que Mira volta à carga com a mesma conversa manipuladora, mas desta vez com os papéis do divórcio ali à vista prontos a assinar e, pasme-se, três anos a viver com o amante, enquanto o tal casamento ao qual estas cenas pertencem, continua, sempre com civilidade até deixar de haver. Desta vez o sexo rola, mas mesmo assim ele não se comove — ela perdeu o emprego, o amante deixou-a há duas semanas e tudo o que mais quer é voltar a casa. Ele, nem por isso, está a pensar em ter um filho com uma amiga lésbica em regime de co-paternidade ou lá que é. A filha que já tem com Mira, agora com sete aninhos coitadinha, do psicólogo já não se escapa. Esta gente, não gosta de ninguém a não ser deles próprios, miséria integral nem chega a começar a descrever isto.
Ainda não percebi se estas mulheres retratadas nas séries americanas são uma tentativa de psicologia inversa, ou se são mesmo o ideal que eles almejam. É tudo de uma miséria mas tão baixa, que só pode ser visto como o que é, mais umas horas de entretenimento escapista. O Ingmar Bergmann, coitado, deve dar voltas no caixão cada vez que alguém vê mais um episódio. Só acabei de ver os cinco penosos episódios porque não gosto de deixar coisas a meio e duas estrelas é por caridade e pelos excelentes actores que de facto são a Jessica Chastain e o Oscar Isaac. Criado por Hagai Levi.
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