Sex Education (terceira temporada, 2021)
É um freak show, podia ser melhor se não fossem as quotas que ironicamente acabam por reflectir muito pouco o mundo real. É como se os autores estivessem a contribuir para uma série de profecias auto-realizadas, criando mais promiscuidade, mais homossexualidade, mais vazio e mais falta de identidade individual, desvalorizando o sexo até ao ponto de não valer nada, enquanto hipocritamente nos vão assegurando que é muito importante. Ao ponto de a principal mentora dessa filosofia e modo de vida na série, a terapeuta Jean Millburn (Gillian Anderson), dar à luz uma criança aos 48 anos, não sabendo sequer quem é o pai — nesse aspecto chega a ser um espectáculo sórdido.
É um mundo onde são os filhos que dão sermões aos pais — que são uma espécie de amigos mal comportados — e os ensinam a comportarem-se, a aceitarem diferenças que são tantas ao ponto da atomização, a aceitarem o amor e ao mesmo tempo a liberdade de fazer tudo o que lhes apetece. Os pais que dão sermões aos filhos estão sempre errados e tiveram uma infância reprimida e problemática, numa palavra, não sabem nada. E obviamente, quem manda na escola, são os alunos de 17 anos.
Mesmo quando se pensa que há uma inflexão, como por exemplo quando Otis Millburn diz à mãe que ela é a pessoa menos ética que conhece, muito pouco habilitada a dar-lhe conselhos, não demora muito a dizer o inverso. Ou quando Jakob Nyman (Mikael Persbrandt), o alegado pai da criança (que desilusão vai ter na quarta temporada, mas o mais certo é ser um homem moderno) diz que que não confia em Jean Millburn, qualquer um pensaria que seria uma consequência lógica do conhecimento que tem da sua vida promíscua, mas não, afinal ficamos a saber que a sua falecida mulher também o andava a trair, desde aí tem dificuldades em confiar nas pessoas. Como se a vida da confiável Dra. Millburn mudasse de um dia para o outro, porque o presente são apenas quatro segundos e tudo o resto é passado, já passou, e principalmente, não irá repetir-se (com o mesmo!) e não acarreta consequências ou responsabilidades.
Independentemente, continua a ter bons momentos de humor alternados com pungência e a gargalhada de Eric (Eric Effiong), o exuberante homossexual, é meia série. O par Otis Millburn (Asa Butterfield) e Maeve Wiley (Emma Mackey), nesta temporada muito apagado, são a outra metade.
A esperança de quem vai contribuindo para a destruição de todos os valores é que um dia, o mundo real seja semelhante àquilo que criaram. Mas, se a destruição de valores que demoraram pelo menos dois milénios a conquistar é certa, aquilo que ocupará esse vazio não o é de todo, mas a experiência social, essa tem de continuar. Criado por Laurie Nunn.
☆ ☆ ☆ ½