Passamos por muitos diagnósticos, muitas doenças designadas por muitos nomes, até o menos programático dos médicos dela se decidir por um que parecia aplicar-se. O nome da doença que parecia aplicar-se era este: “perturbação de personalidade limítrofe”. “Os pacientes com este diagnóstico são uma combinação complexa de forças e fraquezas que desconcertam quem diagnostica e frustram o psicoterapeuta.” Assim se lê numa recensão de “Borderline Personality Disorder: A Clinical Guide”, de John G. Gunderson, publicada na New England Journal of Medicine. “Esses pacientes podem parecer sedutores, compostos e psicologicamente intactos num dia e cair num desespero suicida no outro.” Diz ainda a recensão: “Impulsividade, instabilidade afectiva, esforços frenéticos para evitar o abandono e difusão da identidade, tudo isto é característico.”
—Joan Didion, Noites Azuis, Cultura Editora, 2021 (2006)